Compartilhar

Indeciso quanto ao primeiro tema em que iria tratar aqui no blog, me fiz a seguinte pergunta: o que vale mais: agradar a si mesmo ou agradar aos outros? Uma pergunta que, para muitos, pode ser uma escolha fácil de fazer mas, para mim, simplesmente não há escolha. Isto porque não é possível o agradar a si mesmo de agradar os outros, os dois pontos estão eternamente ligados. A resposta é tão simples e clara (assim como, na matemática, um mais um é igual a dois) e provarei por inúmeros motivos que, quando comparados, chegam sempre a uma única resposta – o verbo compartilhar.

Estudando esta comparação, me deparei com uma surpresa. Descobri que compartilho tudo com todo mundo o tempo inteiro, constante ou inconstantemente, voluntária ou involuntariamente. Acredito que a maioria das pessoas são assim. Compartilho as aulas com alunos e professores; meu trabalho, com colegas; meus horários de lazer, com família e/ou amigos. Tudo, tudo! Estou sempre acompanhado de alguém fisicamente ou mentalmente. E não há como ser diferente, pois simplesmente compartilho. Algo tão natural em minha vida. Por este motivo, sou incapaz de escolher entre agradar a mim mesmo ou agradar aos outros: o eu está junto com os outros e vice-versa. O agrado é conjunto – este texto, por exemplo, escrevo-o e, assim, me realizo; enquanto atraio pessoas a lê-lo.

Cheguei até a pensar que este tipo de pensamento é uma vocação minha, cheguei a comparar-me com Amélie Poulain, personagem fictício do filme “A fabulosa história de Amélie Poulain”, cujo grande dom era fazer o bem, viver para os outros. Mas é tolice pensar que viver para os outros não é viver para si mesmo. Como já disse, estamos interligados condicionalmente. É tão óbvio, ninguém sobrevive sozinho. O sorriso sozinho não vinga, o olhar sozinho não vinga, a palavra sozinha não sobrevive. Todos necessitam de pelo menos uma pessoa para compartilhar, para agradar e sentir-se, ao mesmo tempo, agradado. O agrado a si próprio, com extremo egoísmo, uma hora também não irá vingar. O próprio conforto e a própria luxúria, se for destinado a apenas um único ser, perderá sentido ao longo do tempo: de que adianta ter todo o conforto do mundo e não ter com quem dividir? O compartilhar não se trata de dom ou vocação, é apenas uma ação simples, clara e comum entre todas as pessoas (as que discordam, só o fazem por não refletirem o suficiente sobre o assunto). Outro fato que comprova minha afirmação é que estamos constantemente criando grupos de contato, geramos diariamente relações de forma natural, justamente por ser uma necessidade do ser humano.

Uma vez um professor de Economia teve a audácia de dizer uma grande besteira, que é contrário a todo meu raciocínio (no meu modesto ponto de vista, claro). Ele afirmou que o homem racional é por natureza amoral, ou seja, não reage com a pobreza e problemas dos outros. O grande problema da economia é achar que tudo gira em torno dela. E, em nome dela, são ditas e feitas atrocidades que vão contra minha opinião na questão abordada neste texto. Por exemplo, Karl Marx, economista e sociólogo fortemente influente do pensamento humano, simplesmente dividiu classes sociais e afirmou que a única solução para problemas da sociedade é a guerra entre as classes. Logo, acreditou ser impossível a união de pessoas e junção de desejos a serem compartilhados, além de criar o sentimento contrário, a exclusão de um para o bem de outro. Seria este um pensamento racional? Para mim, é a razão do irracional, pois é irracional aquele que não acredita na capacidade de compreensão, na capacidade de acordo, na decisão de auxílio em conjunto entre homens – ou seja, todas são alguma forma de compartilhamento.

Trago um exemplo da literatura para reforçar minha visão. Jorge Amado teve que dormir no trapiche dos meninos de rua da Bahia para escrever Capitães de areia. Neste livro, meninos sofridos que nunca receberam carinho de pai, nem mãe e que necessitam de furtos para sobreviver na rua. Até estas crianças, que não faziam parte da tal sociedade baiana, que as julgava como ladrões arruaceiros e queria o seu fim em prisões ou reformatórios, até estas crianças compartilham. Até elas, que não tiveram a devida educação, têm que dividir suas atividades, seus bens, para sobreviver (só assim quebrariam aquele tipo de sofrimento). Só o compartilhar faz o ser humano feliz, e isto se dá de forma natural. Agradamos os outros porque queremos, porque fazendo um gesto deste tipo agradamos a nós mesmos. É sempre assim. Estamos aprendendo e ensinando, comunicando e sendo comunicados, discordando e sendo discordados. Porque uma coisa leva a outra invariavelmente, fazemos algo porque esperamos a resposta de alguém. E por isso que compartilhamos, faz parte do ser humano esta única forma de agrado. Até os capitães de areia, os que mais teriam razões para não compartilhar, até eles compartilham.

Como disse Tolstoi em um de seus livros: “a felicidade só é real quando compartilhada” e como deduzo que todos vivemos em busca da verdadeira felicidade, necessitamos compartilhá-la para conseguir alcançá-la. Como prometi esclarecer aqui, é simples e fácil entender que agradando a si mesmo está, indiretamente ou não, agradando aos outros; assim como o contrário também é recíproco.

1 comentários:

Ramon Ely disse...

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