Mundo vagabundo

As vezes penso em ser vagabundo. Mas não um vagabundo qualquer. Não destes que cai de bar em bar, todas as noites, que volta pra casa embriagado e cai no sono. Nem daqueles que ganham a vida de forma fácil, trapaceando em jogatina, que usam da malandragem e da esperteza para sobreviver. Eu queria ser algo totalmente diferente disto.


O verdadeiro vagabundo – o único que merece respeito – é aquele que abandona tudo! Larga emprego, faculdade, vida social e (em casos extremos), até família. Abandona o conforto proporcionado pelo materialismo, abandona as comidas enlatadas, abandona a tecnologia, abandona o dinheiro, tudo, tudo! O vagabundo nato quer viver por instintos, ser nômade. Quer não ter lar, viajar, sobreviver, sentir todas as circunstâncias da sua vida com a maior intensidade possível. Ser assim é viver em risco vinte e quatro horas por dia, é aprender a viver com o pouco, quase nada, para sobreviver (poucas roupas, pouca comida, e paramos por aí porque um verdadeiro vagabundo não se preocupa em ter bens materiais). Por exemplo: um vagabundo não precisa de carro para percorrer um país, pois suas pernas suportam este peso; um vagabundo não precisa pagar imposto de renda, pois não possui nem comprovante. Ah! Cabe salientar que o vagabundo nato prega a liberdade, é utópico, crê nas leis naturais, no caráter instintivo do ser humano, e não em leis criadas pelos próprios homens que dizem pregar a justiça mundana.

Vagabundear, levando em conta este meu contexto, é algo extremamente complicado. Chega a ser quase utópico nos dias de hoje. Só os mais loucos dos homens são capazes de fazer isso. Capazes de abandonar um emprego de carteira assinada, rasgar seus cartões de créditos, abandonarem suas famílias (caso estas não concordem com a posição de vagabundo). Quem, hoje, vive sem internet? E Celular? Quem dirá luz elétrica! O vagabundo, para sumir, precisa queimar sua identidade, precisa fazer com que não seja notado, caso contrário, o mundo dos não-vagabundos o traz de volta. E, como se não bastasse, o mundo dos não-vagabundos ainda faz mais que isso: ridiculariza, escandaliza, ri, condena aquele que vagabundeia. O verdadeiro vagabundo é completamente louco, burro e tolo no mundo dos não-vagabundos.

Seja, talvez, burro e tolo aquele que não conheça literatura. O verdadeiro vagabundo só não consegue abandonar uma coisa de seu mundo instintivo: o estudo. Portanto, para o vagabundo tocar o pé na estrada ele tem que estar pronto emocionalmente para isso: tem que estar com a alma na utopia literária, tem que conhecer, ser inteligente e ter uma mente avançada para poder suportar a parte ruim de vagabundear. Jack London, escritor mundialmente famoso, tentava, através da literatura, mostrar a beleza da vida instintiva, mostrando como o ser humano age parecido com o lobo desde seu nascimento. Henry Thoreau, que chegou a ser preso por não querer pagar imposto (alegando que tinha o direito de não querer financiar a guerra entre EUA e México), chegou a viver no campo sem luz elétrica. Viveu completamente abandonado para viver mais instintivamente – caso que contou em Walden. Há vários exemplos de pessoas que tomaram este rumo, porém não cabe escrever aqui.

Algo que me inveja neste vagabundo é o tempo livre para viver, sua única preocupação é viver. Tem coisa melhor que isso? Eu não tenho tempo para me preocupar com isso. Tenho compromissos com a faculdade e emprego que já tomam conta dos meus dias. É assim, semestre por semestre, quando eu acho que a poeira vai baixar, ela aumenta novamente. Só me sobra tempo mesmo para dormir e descansar. Pergunto-me se tudo isto faz sentido. Acho que estou enlouquecendo...espero que, em alguma hora de minha vida, eu arranje respostas e que eu não me arrependa de minhas escolhas. Não há nada melhor que sentir-se satisfeito com sua situação atual.

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